A foto que transformou Cartier-Bresson

Imagens podem inspirar, contar histórias, matar saudades... e podem, algumas vezes, até mesmo mudar uma vida. Foi o que aconteceu com Cartier-Bresson: essa foto, de Martin Munkacsi, deu uma guinada em sua vida. 

Cartier-Bresson, um dos fundadores da agência Magnum, é considerado uma das maiores referências do meio fotográfico. É interessante saber que essa única foto foi a que o levou a ser quem ele foi.

Do trecho da biografia de Henri Cartier-Bresson que cita a fotografia acima:

"Tirada entre 1929 e 1930, publicada em 1931 na revista Photographies, é assinada por Martin Munkacsi, um antigo fotógrafo esportivo que se tornara repórter de longas viagens e que resumia sua filosofia em algumas frases:

Ver num milésimo de segundo aquilo com que as pessoas indiferentes convivem sem perceber, esse é o princípio da reportagem fotográfica. E, no milésimo de segundo seguinte, fazer a foto daquilo que se viu; esse é o lado prático da reportagem.

A foto mostra três adolescentes - negros e nus, vistos de costas, correndo para as ondas do Lago Tanganica. Ela tem tudo para abalar Cartier-Bresson porque representa tudo que o atrai: a África, que continua a assombrar suas noites; a água do mar, que os surrealistas transformaram em água abissal capaz de ramificar secretamente o inconsciente; o senso de composição como o jogo das silhuetas, a massa de areia e as linhas formadas pela espuma; o movimento, a juventude, a energia, a velocidade. E também a vida, nada mais que a vida. Ao longo de toda a própria vida, Cartier-Bresson não terá palavras suficientes para pagar sua dívida para com essa imagem:

De repente entendi que a fotografia podia fixar a eternidade no instante. Essa foi a única foto que me influenciou. Nessa imagem há uma intensidade, uma espontaneidade, uma alegria de viver, uma maravilha tão grande que me deslumbra até hoje. A perfeição da forma, a percepção da vida, uma vibração sem igual... Pensei: bom Deus, podemos fazer isso com uma máquina... Senti como que um pontapé na bunda: vamos, vai!

Assim, sem querer, um fotógrafo foi guia de outro fotógrafo. Uma obra comprometeu uma vida."

Pierre Assouline, em "Cartier-Bresson: o olhar do século", L&PM, 2014, pp 76.

Cartier-Bresson em meio a sua inquietude, e com um olhar já apurado por sua vivência que envolveu a pintura, o surrealismo, a África, todos fruto de uma busca por novos horizontes, por uma forma de se expressar, encontrou aí o seu instrumento. Um instrumento leve, que autoriza o movimento e o daria liberdade de ir e relatar verdades jamais impensadas.

Surgiu aí uma simbiose entre Cartie-Bresson, sua Leica, que lhe permitia agilidade na sua tomada de plano, e sua objetiva, 50 mm, que considerava perfeita por reconstituir a visão humana na medida exata; e dela nunca mais se separou. 

Surgiu o artista, de olhar singular, que tanto influenciou gerações de fotógrafos.

Obs: Se quiser saber mais sobre a história desse artista inspirador, o livro acima citado pode ser uma das ótimas fontes.

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